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CITOLOGIA DA CÉRVICE E VAGINA Tanto a vagina como o ectocérvice estão revestidos por epitélio pavimentoso estratificado (Figuras 1 e 2). Este tipo de epitélio sofre influência da produção cíclica hormonal do ovário ou de medicamentos com efeitos hormonais semelhantes. Assim sendo, o epitélio vaginal é 10 vezes mais sensível ao estrogênio e 8 vezes mais sensível à progesterona que o endométrio. Na mulher castrada ou pós-menopausada o epitélio é bastante delgado possuindo pequeno número de camadas. Já na gravidez, na fase ovulatória ou nos tumores produtores de estrogênio, ele adquire um sem-número de camadas. Para que possamos entender os efeitos dos hormônios esteróides sobre este epitélio se faz necessário o reconhecimento dos tipos celulares que o compõe. Se observarmos, atentamente, um corte histológico de mucosa vaginal ou ectocervical, notaremos que a medida que as células se afastam da membrana basal, seus citoplasmas aumentam de tamanho. O inverso acontece com seus núcleos: de grandes e vesiculosos próximos à membrana basal, se tornam punctiformes e de cromatina indistinta na superfície epitelial. Assim, poderemos dividir o epitélio em três estratos funcionais: profundo, intermediário e superficial. As células da camada profunda (Figuras 3 e 4) são pequenas, arredondadas e no máximo 4 vezes maiores que os polimorfonucleares neutrófilos. Seus núcleos são relativamente grandes, e é possível identificar estruturas cromatínicas em seus interiores. A camada profunda está subdividida em estrato basal e parabasal de acordo com o maior ou menor tamanho celular. A basal só possui uma única camada de células que, em paliçada, repousa sobre a membrana basal (Figura 2) . É formada por células, no máximo, duas vezes maiores que os neutrófilos. A camada parabasal possui 3 a 4 vezes maiores que os neutrófilos. As células androgênicas são variantes das células profundas (Figuras 5 e 6) . São células de bordos citoplasmáticos bem delimitados e espessados. É freqüente a binucleação e o citoplasma é pálido. Quando vistas em pequeno aumento lembram um quebra-cabeça por tentarem amoldarem-se umas as outras. São encontradas em situações que cursem com androgenismo relativo (pós-menopausa) ou absoluto (terapêutica com androgênios ou tumores masculinizantes). No uso prolongado de anovulatórios cujo gestágeno seja a noretindrona ou noreetisterona e, ainda, nas hiperprolactinemias fisiológicas (lactação) ou patológicas podem ser um achado citológico. Nos esfregaços acentuadamente atróficos, observados em mulheres com vários anos de menopausa, estas células podem apresentar alterações degenerativas caracterizadas por picnose, cariorrexis com fragmentação granular e basofílica do conteúdo celular conferindo ao fundo do esfregaço um aspecto de "poeira grossa" e que os autores de língua inglesa chamam de "blue blobs". As vezes, nesta mesma situação, as células profundas apresentam-se desprovidas de citoplasma (citólise atrófica). Células profundas em um esfregaço vaginal é indicativo de hipoestrogenismo. Quanto maior a quantidade de células profundas maior a deprivação estrogênica. A camada intermediária está representada por vários estratos celulares; suas células têm citoplasmas mais delgados, menos corados e poligonais. Seus diâmetros são superiores a 4 vezes o tamanho dos leucócitos. Os núcleos são menores que os das células profundas, porém suas cromatinas são perfeitamente identificáveis (núcleos vesiculosos) (Figuras 7 e 8). As células naviculares (Figura 9) são variantes do tipo intermediário. São células que lembram uma concha ou navio e caracterizam-se pelo alto teor de glicogênio . Aparecem nas estimulações hormonais persistentes quando da associação estrógeno-progesterona (gravidez) ou estrógeno-andrógenos (anovulatório combinado e anovulação crônica). Devem sempre ser encontradas na gravidez, porém não são diagnósticas daquele estado. A camada superficial (Figuras 7 e 10) apresenta estratificação variável de acordo com a atividade estrogênica. É numerosa nos estímulos estrogênicos importantes, como no período peri-ovulatório, e escassa na Segunda fase do ciclo ou nos estímulos estrogênicos fracos. Suas células são grandes de citoplasmas poligonais e quase que transparentes. Seus núcleos se apresentam punctiformes, intensamente corados, onde não se consegue identificar cromatinas. São chamados núcleos picnóticos. De acordo com a afinidade destas células ao corantes policrômicos de Papanicolaou ou Shorr, estas células ou se coram em verde-azulado (cianofílicas), ou em amarelo-alaranjado (eosinofílicas). São cianofílicas as células da camada profunda, intermediária e o estrato mais superficial da camada intermediária (pré-picnótico) e mais profundo da superficial. São eosinofílicas única e exclusivamente as células mais superficiais do estrato superficial |
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